domingo, 13 de novembro de 2011

O dia em que éramos três





Fecha-se a porta. Apaga-se a luz. Escuridão silenciosa. Risos. Música. Roupas sujas jogadas no chão. Não eram homens perfeitos, nem foram feitos um para o outro. Mas pertenceram-se perfeitamente um para o outro naquela noite. Ficaram pelados, mas ninguém viu. Deixaram de ser homens, passaram a ser novamente meninos. A água morna caiu sob seus corpos esquálidos levando embora toda imundície do mundo. Agora estão nus. Despidos de qualquer discriminação. Apreciam sua nudez, recôndita e explícita. Eu já tinha ficado pelado na frente de outras pessoas antes. Mas era a primeira vez que me sentia completamente nu. A única roupa que trouxe. Um tecido que tudo expõe, tecido divinamente com afã. Cobriu meus medos e desejos mais íntimos. Ínfimos. Caiu feito luva. Sua máscara. Minha carnação, minha casca. Escorchei-me.
Ensaboei seus cabelos. Beijou minha boca. Vi se beijarem. Sem ciúmes. Sem posse. Meu rosto pressionado contra o azulejo gelado da parede. Ficamos pelados novamente. Tentei escapar, não consegui. Gemidos. Tapou minha boca. Não éramos mais meninos, nem homens. De repente, éramos humanos. Três corpos trigueiros cobertos de lascívia e volúpia.
Subversivos, apegaram-se maviosamente à um amor livre de qualquer preconceito obsoleto. Amamos sem obrigação. Porque queríamos amar. Sem promessas, sem dúvida. Sem ninguém nos ensinar.
Poderíamos ficar ali a noite inteira. Mas no fastígio de sua relação hedonista, fremiu de prazer, bebendo seu líquido, como em libação inviolável.
No quarto soturno entregaram-se à inefável catarse que sentiam em meio à um silêncio onírico. Inebriado pelo que passou, não dormi. Ainda não me acostumei à dormir junto. Não precisa mais me abraçar. Separaram-se. Nada foi dito.
Me olho no espelho, agora sozinho e pelado, não sei quando ficarei nu novamente.

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