sábado, 19 de novembro de 2011

E para que serve essa boca tão grande? Para soprar dentro de ti o fôlego vital e refazer-te do amor que habita em mim e me fere brutalmente inocente, sem fardo e sem culpa. E para que eu não morra, e por covardia de não matá-la em mim, à mato fora de mim. Com minhas mãos esquálidas de sangue puro.
Arfante o desespero corre em minhas veias incrédulas do sorvedouro causado. Você não merecia tanto. Não merecia todo amor que te ofereci em sacrifício.
A água gelada bate em meu rosto como o tapa dado quando você não soube aceitar o meu amor. Mas resignadamente aceitou vir ao meu encontro pela última vez. Recorto seu sorriso da lembrança de ter você em meus braços e jogando num mar de alegrias. Dizia que não gostava, mas só eu enxergava o sorriso recôndito no rosto molhado correndo para vingar-se. Exigindo perdão. Desculpa. Agora meus braços já não suportam te carregar sem vida. Como eu já não suportava carregar sozinho o nosso amor. Que você teimava em dizer ser só meu.
E na volição entre a primeira e a septuagésima sexta facada pude lembrar do seu rosto chegando perdido no primeiro dia de trabalho. De como você sempre chorava vendo a mesma parte de "Antes que termine o dia". Em como adorava vê-la dormir e ter seus espasmos. E como foi difícil parar de fumar, e de como me questiono agora para quê. Recordo seu rosto estampado de espanto ao me ouvir sem remorso, quando mandou eu seguir minha vida, dizer que você é a minha vida. O mesmo rosto que vejo, e estoico permaneço surdo e já não sei mais quantas facadas dei, e nem mesmo o que continuo tentando matar. Mas matei.
E num chofre, estremunhei sôfrego como num pesadelo. E a noite sussurrou em seu ouvido que ela não podia permanecer ali.  Foi quando viu o quanto você combinava com meu jardim, e em como você permaneceria sendo meu tesouro escondido.

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