sábado, 30 de junho de 2012

Live

Tira teus dedos tépidos da minha garganta vazia.
Deixa o ar entrar fresco nos meus pulmões suados.
Coloca minhas mãos em frêmito sobre teu colo fértil.
Desliza melífluo de meus olhos e abre-os. 
Abre a porta há tanto fechada.
De sobressalto encontre as gavetas reviradas e num suspiro pergunte dissimulado quem o fez.
Quem são todos estes pendurados em tua parede.
A quem pertencem esses olhos empoeirados.
Roupas que não te cabem mais neste corpo.
Um  copo que outrora cheio em estigma de bocas vazias que encontra de súbito a palma desajeitada. 
Estilhaços.
Corpos esvaziados de suas vestes.
Vê-te desenxabido de tecidos amarrotados em seus cabides.
Lava teu rosto
Encara teu espelho e espreme de ti o que te comprime.
Livra-te dos germes
Lavra este coração alqueivado.
Vai
       Vi
             Ver
                    Me 
                          Leve
                                    como em livro.
Não precisa mais andar curvado. 
                                                              LIVE.

Deixe a menina em paz

É daquelas que permanecem tentando até que não haja mais forças. Mas nunca foi muito forte. Cansa-se fácil e sem se apoiar procura logo um lugar pra se sentar. Lágrimas alhures nunca a fizeram chorar. Mas aqueles que engolem o choro e petrifica-o junto com algo que enrijece concomitantemente, a fazem debulhar. Peço licença, esbarro, esquivo-me e sem esquecer de quem está do meu lado vou correndo atrás de mim. Num tropeço trôpego e escorregado enrubesce não o rosto, mas o corpo todo e deixa-o túmido caminhando desajeitado.
Em casa, seus olhos desejosos e ávidos em possuir, em sorver. Barba por fazer e beijo ainda por dar. Meus lábios à pedir labor e o sabor de saber os seus tangentes aos meus.
A uma distância incoercível de produzir-me ânsia, de tocar e sentir na minha pele sua barba roçar no meu corpo frêmito de fabricar desejo e ilusão de dois corpos que estão à dois passos de enlevar-se em prazer.
A umidade baça no vidro desfeita por meus dedos, enquanto os seus seguram o meu cabelo.
E meus olhos à fitar você crispado de prazer derramando seus suor sob meu torso curvado. Foi quando vi minha inocência bruta escorrer sob minhas pernas e manchar aquele tapete desbotado desde que o compraram no brechó, o mesmo onde aquela que me pariu, ao seu lado parou e meu primeiro sutiã comprou.
Mas ela ainda é uma menina. E não devia ter sede no meio da noite. E a porta entreaberta com a pálida luz do abajur mergulhado na escuridão de duas silhuetas estertorando sôfregas à me ninar a madrugada toda e por um bom tempo, durante longos dias não devia existir e persistir em meu ventre, carregado e oco, na insistência que me causa  a sua ausência sem calças em meus olhos de pés descalços. Em poder de teu tato sob o teto de minha casa bem embaixo de sua asa.
Deixe a menina em paz. Foi tudo que soube e coube à tua boca dizer diante do silêncio surdo de minhas mudanças que estavam apenas prestes a acontecer.

No topo

No topo, estrépito, topei com ela, tímida.
Sem tempo perder, por puro instinto extinto de amores tintos de amora rubro cobre,
sem fruto bruto,
placebo,
de boca que desabrocha em beijo.
Túmida, tu me dás um tapa?!
És tépida.
És típica.
Estúpida.
Tapada!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Quarto 6


Hoje quando acordei olhei pro lado
Vi que eu estava meio assim
todo desse jeito
mais que daquela vez
menos do que pensei
tão tal qual estou
e imaginei.
De chofre saltei pra dentro de mim
e percebi que não me cabia mais
E agora ando flutuando por aí
tão alto que nem me alcanço.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Invólucro d'alma d'um corpo oco,
de enfermo,
ocre.
Medíocre.
Roendo-lhe os ossos
em carne viva.
Exangue.
Lambe os dedos,
lânguido,
dentro de um mundo
fora de si.

o pó
o pouco.
Um tanto quanto atento
ao relento.
Exilado
Rasgado
Olho por olho
Poro por poro
Todos 
Por um
Por um mísero pedaço de vida
que lhe aqueça a alma,
se esqueça da palma estendida
que suplica
C'alma
C'alma seca amar a'marga à margem d'amalgamada vida.
Ida.
Que foi sem me dizer 
Ond'ia
Ond'oia
Onde se perdeu de mim e se encontrou comigo.
Já frio e azedo
Estupido, insípido.
Com medo de naquela
leve, lívida e pálida
palma de sangue ralo 
refletir-se
à sua transparência
a minha esquálida 
aparência.