Voa colibri, ágil e irrequieto. Capaz de alimentar-se e disseminar a beleza das flores, num ato de amor recíproco inocente e coberto de pureza. Capaz de se apaixonar por uma rosa, e incapaz de beijá-la. Para que esta não morra jamais. E viva sempre bela, intocada, pura. Não a beija, e também a nenhuma outra. O que o alimenta é o simples fato de ela existir pra ele. De poder admirá-la. Surdo amor. Sem palavra e repleto de gestos. Rufla silenciosamente o que sente. Capaz de atravessar um oceano para encontrá-la. Mas jamais podendo caminhar sob o solo que alimenta e sustenta quem ele tanto deseja. Tendo que contemplá-la apenas com seu olhar fulgurante enquanto paira no ar. Sendo este também observado, admirado. Dizem que trás sorte. Admira sua rosa, sem nem ao menos sentir seu aroma, sua essência. Mas é o suficiente. Ama sem mais nada esperar. Não quer nada em troca. Seu amor é suficiente para todo o jardim. Mas ele só deseja uma dentre todas aquelas. Não a trai. Fidelidade silenciosa. Passa-se o tempo. Duradouro amor. Com a carne fraca e o coração forte, maior do que pode sustentar dentro de si, pára. As asas que até então batiam tão depressa, cessam. Cai ao chão. Sozinha ela também não resiste. Cai. Talvez por culpa, talvez não. Transformam-se em terra. Agora estão juntos. São um só. Num só beijo. Terra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário