quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Tempo salino

Num átimo de instante espremido entre o já que acaba de se tornar passado e o quase que já é futuro, pelo lábil enternecimento sujo, amargo, vivo e hostil que não se repetirá.

Eu olho, mas o peso da timidez sobre a nuca me abaixa a cabeça.
A coragem receosa levanta-lhe segurando-me pelo queixo.
Ao encontro das pupilas dilatadas há um súbito enfervecimento dos glóbulos vermelhos causando um rápido enrubescer, semelhante ao entardecer repentinamente laranja roxo.

Os olhos realizam uma curva acentuada.

Um suspiro ao tentar fazer seu caminho, tão conhecido, é interrompido entre o peito e a garganta. Um sorriso escapa-me obliquamente à boca. Todos os músculos de minha face formam uma expressão ainda não denominada. Sem caráter definido.
Deliberadamente olho. Ele não.
Ele olha, percebo de soslaio.
O tempo ralentou-se ao meu desejo ao ponto de permitir-me formular a predestinação de todo nosso romance inventado vivido à nossa despedida.
Que acontece já sem ocorra de fato. Antes que houvesse uma chegada. E como a mulher de Ló - sem nem mesmo seu nome ser lembrado - olho pra trás e, me resta a imensidão de tudo que poderia ter sido.
O hálito escapa escorregado aliviado, a cabeça soergue-se e um instante de sal cristaliza-se no ar fazendo-se lembrança de futuro reminiscente vagando a esperar na estação de trem.

E a lua a me sorrir de boca cheia.

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